por Cléber Atabike
Mesmo que à
primeira vista as manifestações dos dias 13 e 15 de março de 2015 pareçam uma
derrota da esquerda verdadeira, elas podem ser muito úteis à luta
anticapitalista pois esclarecem muito bem os desafios que teremos que
enfrentar. Apesar de terem sido protestos de direita, é interessante notar que
estas pessoas não estão passivas e sim reagindo aos acontecimentos recentes,
mesmo com ingenuidade política, preconceitos de classe e, em alguns casos,
maldade.
É claro que é
inútil tentar convencer neonazisras, - e similares a lutar por uma sociedade
igualitarista, humana e com participação popular. Mas podemos investir nas pessoas que estão
indo às ruas por ingenuidade política ou mesmo por preconceito de classe. Elas,
como nós, querem mudanças.
Lembremos que
na última eleição houve 30% de não votantes (boicote e voto nulo), mesmo o voto
sendo legalmente obrigatório, mostrando que a população brasileira não acredita
no sistema político. Mesmo entre os que participaram da farsa eleitoral, não
vi, em nenhum momento, ninguém com camisa nem retrato do Aécio ou da Dilma em
casa. De modo geral, quem escolheu um candidato na verdade votou contra o
outro, vota no menos pior.
Passada as
eleições e as medidas anti-populares do começo do mandato de Dilma, explodem
duas reações populares de direita, as dos adeptos do projeto
neodesenvolvimentista/neoliberal do PT e do projeto estritamente neoliberal e
anti-polular do PSDB.
A reforma
política, pelo que percebi, foi a principal reivindicação dos protestos do dia
13. Penso que é hora de explicar que tais reformas, se ocorrerem, serão uma
farsa. É ingênuo demais acreditar que os próprios beneficiados do sistema
político atual operem mudanças que tirariam seus privilégios. Seria mais uma vez o velho protocolo
brasileiro de dirigismo estatal que blinda o povo de participar das decisões.
Devemos
explicar que criticar a corrupção generalizado apenas como se o problema
dependesse do fim de casos pontuais de desvio de conduta, como fizeram a turma
do dia 15, é atacar a superfície do problema.
Nosso sistema político faz com que boa parte dos que estiverem no poder
estejam envolvido com falcatruas. Por mais que possam existir políticos
honestos, o problema é estrutural, e não pontual. Pedir impeachment é só pedir
que se troque o ladrão. A questão de fundo é que o estado é um grande balcão de
negócios de interesses privamos e corporativos, totalmente blindado contra o
controle social.
Não me
surpreendo com os sucessivos escândalos de corrupção. Não é porque não me sinta indignado, mas
porque compreendo que por mais que existam mecanismos cada vez mais eficazes de
vigiar e punir os infratores, se o sistema político não mudar, novos corruptos
surgirão como minhocas que se multiplicam assim que cortadas em várias partes.
Mesmo ficando
claro que a grande maioria dos casos de corrupção tenham raízes no
financiamento privado ilimitado de campanha, não acredito que somente o fim
deste mecanismos reduzirá a corrupção. Nas épocas que não haviam tantas
campanhas eleitorais ou quando as campanhas eram mais baratas. Como no regime
militar, havia menos corrupção? Claro
que não. Se o financiamento de campanha for estritamente público e a mesma
classe de político estiver no poder, ela descobrirá outras formas de praticar
corrupção.
Devemos
explicar à população que tanto o projeto do PT quanto do PSDB são muito pouco
comparados com as potencialidades da nossa sociedade. Tenho certeza que podemos
construir opções melhores para o futuro. Devemos explicar às pessoas que foram
a estes atos que com ou sem Dilma, com Michel Temer ou Eduardo Cunha, com Aécio
Neves ou Marina Silva, o velho modelo de estado burguês permanecerá em pé como
um zumbi que não sabe que está morto.
Acima de tudo
é importante mostrar que existe uma terceira via, que é possível construirmos
outro sistema, que passa pelo ataque ao estado burguês, ao capitalismo epela
consolidação do poder popular. Sei que o caminho pode ser longo, mas devemos
mostrar que o sistema político só será minimamente respeitoso com a população
quando o povo puder participar livremente das decisões políticas e deixar de
pedir e começar a impor sua soberania, independente de quem esteja nos cargos
administrativos.
Temos que
explicar que participação popular implica ativismo, erros, acertos, dor e
aprendizagem. Mas como aprender sem praticar, sem errar e aprender como os
erros?
Os protestos
de junho de 2013 começaram com a esquerda verdadeira, apartidária. Avalio que
eles se tornaram gigantes exatamente porque diversas tendências ideológicas que
estavam insatisfeitas como o governo dividiram os mesmos espaços. O Estado foi
pego de calças curtas e, em certos momentos, a imprensa e até mesmo a própria
polícia perderam legitimidade perante à opinião pública.
Baixada a
poeira de Junho de 2013, nós continuamos na rua enquanto os setores
ideologicamente burgueses voltaram pra casa para reclamar da vida. A imprensa e
o governo, muito preocupados principalmente na época com a Copa da FIFA, foram
aperfeiçoando os mecanismos repressivos e de dominação ideológica. Durante a
farra da FIFA, conservadores, a maior parte da população estava passiva. O que
vimos em seguida foi o recrudescimento e aperfeiçoamento do fascismo pelo
estado. Talvez nunca desde os anos de chumbo, no período militar, houve tanta
perseguição a militantes como agora. Se
o estado se preocupa tanto conosco, se investe tanto na nossa repressão, é por
que estamos incomodando, é porque estamos no caminho certo.
Mas o que
estava acontecendo com as pessoas que não estavam frequentando os atos de
ruas? Posso estar errado, mas penso que
depois de junho de 2013 também os conservadores discutiram mais política e se
reconheceram melhor ideologicamente.
Suas identificações ideológicas não estavam sendo expressas nos
protestos populares, mais sim nos bate-papos diários, em discussões de facebook
e etc. Só percebemos isso agora, com os protestos do dia 13 e 15.
Obviamente,
são manifestações que incomodam muito menos o poder, pois defendem duas opções
de estado burguês. Aposto meu fígado que não houve nem 1% da repressão a
militantes que nós sofremos. Mas há um aspecto muito positivo à nossa luta:
Talvez mais do que nunca as pessoas estejam deixando claro suas
concepções. Lembro como foi a reação dos
setores ideologicamente burgueses, da direita mais atrasada, após a reeleição
de Dilma: misoginia, racismo,
preconceito contra nordestino. Do lado dos pró-Dilma, nenhum elogio à ela, nem
ao Lula. Foi quase como se dissessem: Tá
ruim mais se mudar piora. Ou essa: A
gente quer fazer as reformas, mas o PMDB não deixa, o congresso não faz a
reforma política... enfim, eles estão falando o que pensam, e por mais odioso
que seja, isso é bom. Os protestos dos dias 13 e 15 deixam claro o
reconhecimento, entre tais os setores, o que cada um pensa, o porquê uns
preferem o PT e outros o PSDB, mas principalmente a fraqueza das duas
propostas.
Acho pouco
provável que, como em junho de 2013, diferentes tendencias ideológicas estejam juntas sobre no mesmo chão juntos. Nos resta agora mostrar a eles as contradições de suas ideias,
mostrar o conflito de classe que está escancarado, fortalecer as bases
populares e assim aumentar o número de pessoas que frequentam manifestações realmente contestadoras da ordem vigente. As estruturas do estado atual estão ruindo, e quando cair, que seja
nas mãos do poder popular igualitarista, humanista e internacionalista.
Estejamos sempre nas ruas, porque na guerra de ideias, nossas armas são mais
poderosas.