segunda-feira, 24 de outubro de 2016
PORQUE OLHAMOS FOTOS ANTIGAS
Mergulhar em uma rotina maçante é algo tenebroso. É estar forçado a estar mudo, sem significar as ações diárias. É mergulhar o tempo interior nos minutos e enxergar somente seus segundos. É sentir que o constante carregar do grande peso diário pode ser inevitável e eterno.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
É MELHOR ACREDITAR QUE A VIDA FAZ SENTIDO?
Acho sinceramente que procurar o sentido
da vida é nega-la. Se a vida vai para
algum lugar, se tem uma finalidade, então temos que orquestrar bem nossa morte
para garantir esse sentido. Porém quanto mais pensa-se na morte, mais
esquece-se a vida. A transcendência no fim é a negação da vida. Veja, por
exemplo, os vários símbolos do cristianismo relacionados à morte: crucificação, ressureição, paixão de cristo e
etc..... Negar o sentido da vida é valorizar somente o que temos, a vida.
Acho sinceramente que procurar o sentido
da vida é nega-la. Se a vida vai para
algum lugar, se tem uma finalidade, então temos que orquestrar bem nossa morte
para garantir esse sentido. Porém quanto mais pensa-se na morte, mais
esquece-se a vida. A transcendência no fim é a negação da vida. Veja, por
exemplo, os vários símbolos do cristianismo relacionados à morte: crucificação, ressureição, paixão de cristo e
etc..... Negar o sentido da vida é valorizar somente o que temos, a vida.
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
GOLPISTA DOS ATOS “FORA TEMER”
Como
é duro estar no presente! Viver sem a dúvida sobre o que fazer pode ser a maior
das utopias humanas. Aos mesmo tempo é libertador saber que ela é impossível.
Ontem
eu fui ao ato Fora Temer. Estava angustiado. Sabia que lá encontraria defensores
do PT, que é um partido que considero indefensável. Por outro lado, também
achava importante reagir ao avanço do capital que este governo golpista
representa. Sabia que a história é implacável com os erros. Os passos agora são
decisivos. Percebi que muitos companheiros, radicalizados como eu, tinham
diferentes opiniões sobre o que fazer. Decidi ir e ver quem e quais seriam as
posturas dos manifestantes.
De
cara, me espantou a quantidade de gente, sinal que o clima vai esquentar daqui
pra frente. Qual não foi minha surpresa ao perceber que estavam lá juntos todo
o espectro da esquerda e pseudoesquerda, de black-blocs a petistas. Todos agora
têm um inimigo em comum.
Cheguei
à conclusão que devemos ir aos atos Fora Temer. Gritar Fora Temer, mas xingar
todos os pelegos que entoarem “Volta Querida” ou coisa do tipo. Vamos lembrar
que o PT também é culpado pelo golpe. Petista também é golpista. Lembremos:
A função de quem quer mudanças verdadeiramente emancipatória é rechaçar não somente o avanço do neoliberalismo, mas toda a trama de cooptações que resultem em conciliação de classes.
Como
é duro estar no presente! Viver sem a dúvida sobre o que fazer pode ser a maior
das utopias humanas. Aos mesmo tempo é libertador saber que ela é impossível.
Ontem
eu fui ao ato Fora Temer. Estava angustiado. Sabia que lá encontraria defensores
do PT, que é um partido que considero indefensável. Por outro lado, também
achava importante reagir ao avanço do capital que este governo golpista
representa. Sabia que a história é implacável com os erros. Os passos agora são
decisivos. Percebi que muitos companheiros, radicalizados como eu, tinham
diferentes opiniões sobre o que fazer. Decidi ir e ver quem e quais seriam as
posturas dos manifestantes.
De
cara, me espantou a quantidade de gente, sinal que o clima vai esquentar daqui
pra frente. Qual não foi minha surpresa ao perceber que estavam lá juntos todo
o espectro da esquerda e pseudoesquerda, de black-blocs a petistas. Todos agora
têm um inimigo em comum.
Cheguei
à conclusão que devemos ir aos atos Fora Temer. Gritar Fora Temer, mas xingar
todos os pelegos que entoarem “Volta Querida” ou coisa do tipo. Vamos lembrar
que o PT também é culpado pelo golpe. Petista também é golpista. Lembremos:
terça-feira, 23 de agosto de 2016
NOSSO FUTEBOL PRECISA DAS MULHERES
Mais de 40 bilhões de reais gasto pelo
governo e eis um dos legados das Olimpíadas.
Adorei o futebol feminino. É um misto de futebol antigo e
amador. Achei que as jogadoras são bem menos agressivas entre si e com os
juízes. Elas poderiam fazer o mundo do futebol bem menos machista e violento.
Tive a impressão que o torcedor tem muito mais empatia com a
seleção feminina do que com a masculina. De mesma maneira que a maioria da
nossa população, as jogadoras são trabalhadoras com renda
e estabilidade profissional bem menores que as dos homens. Tenho certeza que o
futebol feminino seria um sucesso no Brasil, resgataria o espírito da várzea.
Talvez por isso não estejam aparecendo novos craques.
Estas não poderiam ser as verdadeiras
vitórias da seleção feminina? Não é medíocre olhar somente o resultado final?
Aliás, como cobrar resultados se elas nem mesmo têm um
campeonato nacional no seu próprio pais? A mentalidade burra de ajuste fiscal e
machismo também assola os vampiros que dirigem a CBF.
http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/bastidores-fc/post/cupula-da-cbf-discute-extincao-de-selecao-permanente-de-futebol-feminino.html?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_content=Esporte&utm_campaign=globoesportecom
quinta-feira, 18 de agosto de 2016
É HORA DE MAIS UM GOLPE
Vivemos um momento de avanço do
neoliberalismo no Brasil. A situação é complexa, há guerras de narrativas nem
sempre bem debatida na população. A força do sistema que se impõe sobre a nossa
vida pode fazer muita gente bem-intencionada servir à opressão exercida pela
castra política, pela imprensa, pelo rentismo e pelo judiciário.
Foi quase impossível não ser
influenciado por todo o teatro judicial e midiático do
impeachment. Ficou muito claro que todos os atores deste processo não merecem
nossa confiança. Sou da opinião que o impeachment foi um golpe palaciano, dado
de quem está ao lado do poder. Mas acho que não vale a pena aprofundar a
discussão sobre a definição do que ocorreu. Deixo a conclusão para a história.
Quero mostrar que, querendo ou não, corremos o risco de reforçar as ferramentas
do sistema que agem contra nós mesmo. Ou seja, acordo de classes, eleições e judiciários
são campos de batalhas contrarrevolucionários, dos quais é impossível evitar
suas contradições. O golpe foi dado, façamos que ele atinja o sistema, e não a
gente.
Mesmo que o governo Temer seja bem pior
do que seria o governo Dilma se ela continuasse, o que adianta ressaltar o
pouco que a classe trabalhadora perde com Temer no poder ao invés de Dilma? Qual
segurança teríamos de que Dilma frearia o ajuste fiscal iniciado no começo de
seu próprio governo? Lula de volta também não daria em grande coisa. Com esta
mesma estrutura de poder, seria pedir outro golpe.
Vivemos em um momento em que executivos
e políticos têm medo de ser presos. Porém penso que punir mais burgueses não
significa que a justiça esteja sendo menos parcial. Significa simplesmente que
o punitivismo está maior, tão grande que chega a alguns de cima. Se a estrutura do poder não mudar, para cada
burguês preso muito mais pobres negro também o serão, preservando a maioria de desfavorecidos
nas cadeias.
Pode parecer desolador ter um governo
tão explicitamente reacionário no poder, mas lembremos que os momentos de nossa
história em que a classe trabalhadora mais obteve direitos foi no governo
Getúlio Vargas, com as leis trabalhistas, e no governo José Sarney, com a
Constituição de 1988. Nenhum destes governos foi eleito, nenhum deles nem se
quer foi considerado de esquerda. Os direitos foram conquistados com
consequência de decadência de governos conservadores. Não foi por interesse de
nenhuma conciliação de classes, como propõe o PT, que hoje minorias como
negros, LGBTs e mulheres obtiveram os direitos que hoje têm. Foi porque a
população pressionou o poder para tal.
É este o caminho. Pode não parecer, mas o estado burguês é
dialeticamente permeável à rua. Mesmo que a castra política, a imprensa, o
rentismo e o judiciário continuem dando as cartas, não são tão fortes e unidos
quanto tanta gente da esquerda pensa. Todas as bizarrices que presenciamos no
impeachment mostram o que os uniu foi somente a incapacidade do governo PT em manter
o acordo de classe. Agora vive-se as contradições do um governo de ultradireita
considerado ainda menos legitimo pela maioria. O sistema político está mais suscetível
às forças de ação dos oprimidos. É hora de mais um golpe, vindo de baixo do
poder.
Vivemos um momento de avanço do
neoliberalismo no Brasil. A situação é complexa, há guerras de narrativas nem
sempre bem debatida na população. A força do sistema que se impõe sobre a nossa
vida pode fazer muita gente bem-intencionada servir à opressão exercida pela
castra política, pela imprensa, pelo rentismo e pelo judiciário.
Foi quase impossível não ser
influenciado por todo o teatro judicial e midiático do
impeachment. Ficou muito claro que todos os atores deste processo não merecem
nossa confiança. Sou da opinião que o impeachment foi um golpe palaciano, dado
de quem está ao lado do poder. Mas acho que não vale a pena aprofundar a
discussão sobre a definição do que ocorreu. Deixo a conclusão para a história.
Quero mostrar que, querendo ou não, corremos o risco de reforçar as ferramentas
do sistema que agem contra nós mesmo. Ou seja, acordo de classes, eleições e judiciários
são campos de batalhas contrarrevolucionários, dos quais é impossível evitar
suas contradições. O golpe foi dado, façamos que ele atinja o sistema, e não a
gente.
Mesmo que o governo Temer seja bem pior
do que seria o governo Dilma se ela continuasse, o que adianta ressaltar o
pouco que a classe trabalhadora perde com Temer no poder ao invés de Dilma? Qual
segurança teríamos de que Dilma frearia o ajuste fiscal iniciado no começo de
seu próprio governo? Lula de volta também não daria em grande coisa. Com esta
mesma estrutura de poder, seria pedir outro golpe.
Vivemos em um momento em que executivos
e políticos têm medo de ser presos. Porém penso que punir mais burgueses não
significa que a justiça esteja sendo menos parcial. Significa simplesmente que
o punitivismo está maior, tão grande que chega a alguns de cima. Se a estrutura do poder não mudar, para cada
burguês preso muito mais pobres negro também o serão, preservando a maioria de desfavorecidos
nas cadeias.
Pode parecer desolador ter um governo
tão explicitamente reacionário no poder, mas lembremos que os momentos de nossa
história em que a classe trabalhadora mais obteve direitos foi no governo
Getúlio Vargas, com as leis trabalhistas, e no governo José Sarney, com a
Constituição de 1988. Nenhum destes governos foi eleito, nenhum deles nem se
quer foi considerado de esquerda. Os direitos foram conquistados com
consequência de decadência de governos conservadores. Não foi por interesse de
nenhuma conciliação de classes, como propõe o PT, que hoje minorias como
negros, LGBTs e mulheres obtiveram os direitos que hoje têm. Foi porque a
população pressionou o poder para tal.
É este o caminho. Pode não parecer, mas o estado burguês é
dialeticamente permeável à rua. Mesmo que a castra política, a imprensa, o
rentismo e o judiciário continuem dando as cartas, não são tão fortes e unidos
quanto tanta gente da esquerda pensa. Todas as bizarrices que presenciamos no
impeachment mostram o que os uniu foi somente a incapacidade do governo PT em manter
o acordo de classe. Agora vive-se as contradições do um governo de ultradireita
considerado ainda menos legitimo pela maioria. O sistema político está mais suscetível
às forças de ação dos oprimidos. É hora de mais um golpe, vindo de baixo do
poder.
Vivemos um momento de avanço do
neoliberalismo no Brasil. A situação é complexa, há guerras de narrativas nem
sempre bem debatida na população. A força do sistema que se impõe sobre a nossa
vida pode fazer muita gente bem-intencionada servir à opressão exercida pela
castra política, pela imprensa, pelo rentismo e pelo judiciário.
Foi quase impossível não ser
influenciado por todo o teatro judicial e midiático do
impeachment. Ficou muito claro que todos os atores deste processo não merecem
nossa confiança. Sou da opinião que o impeachment foi um golpe palaciano, dado
de quem está ao lado do poder. Mas acho que não vale a pena aprofundar a
discussão sobre a definição do que ocorreu. Deixo a conclusão para a história.
Quero mostrar que, querendo ou não, corremos o risco de reforçar as ferramentas
do sistema que agem contra nós mesmo. Ou seja, acordo de classes, eleições e judiciários
são campos de batalhas contrarrevolucionários, dos quais é impossível evitar
suas contradições. O golpe foi dado, façamos que ele atinja o sistema, e não a
gente.
Mesmo que o governo Temer seja bem pior
do que seria o governo Dilma se ela continuasse, o que adianta ressaltar o
pouco que a classe trabalhadora perde com Temer no poder ao invés de Dilma? Qual
segurança teríamos de que Dilma frearia o ajuste fiscal iniciado no começo de
seu próprio governo? Lula de volta também não daria em grande coisa. Com esta
mesma estrutura de poder, seria pedir outro golpe.
Vivemos em um momento em que executivos
e políticos têm medo de ser presos. Porém penso que punir mais burgueses não
significa que a justiça esteja sendo menos parcial. Significa simplesmente que
o punitivismo está maior, tão grande que chega a alguns de cima. Se a estrutura do poder não mudar, para cada
burguês preso muito mais pobres negro também o serão, preservando a maioria de desfavorecidos
nas cadeias.
Pode parecer desolador ter um governo
tão explicitamente reacionário no poder, mas lembremos que os momentos de nossa
história em que a classe trabalhadora mais obteve direitos foi no governo
Getúlio Vargas, com as leis trabalhistas, e no governo José Sarney, com a
Constituição de 1988. Nenhum destes governos foi eleito, nenhum deles nem se
quer foi considerado de esquerda. Os direitos foram conquistados com
consequência de decadência de governos conservadores. Não foi por interesse de
nenhuma conciliação de classes, como propõe o PT, que hoje minorias como
negros, LGBTs e mulheres obtiveram os direitos que hoje têm. Foi porque a
população pressionou o poder para tal.
É este o caminho. Pode não parecer, mas o estado burguês é
dialeticamente permeável à rua. Mesmo que a castra política, a imprensa, o
rentismo e o judiciário continuem dando as cartas, não são tão fortes e unidos
quanto tanta gente da esquerda pensa. Todas as bizarrices que presenciamos no
impeachment mostram o que os uniu foi somente a incapacidade do governo PT em manter
o acordo de classe. Agora vive-se as contradições do um governo de ultradireita
considerado ainda menos legitimo pela maioria. O sistema político está mais suscetível
às forças de ação dos oprimidos. É hora de mais um golpe, vindo de baixo do
poder.
terça-feira, 5 de julho de 2016
Nossa força contra do estado, e não contra nós mesmo
Recentemente estávamos no metrô, por volta das 11 da noite, voltando de uma festa e
uns 8 garotos, em turma, pularam a catraca. Foi tão rápido o vigia
não pode fazer nada mais do que tentar dar uma rasteiras nos que
estavam mais próximos. Fiquei contente em ter visto a cena. Acho que
tudo mundo deveria fazer o mesmo. Circular pela cidade é um direito
de todos.
Mas
foi triste ver a reação do vigia, um senhor velho e baixo. Ele
pegou uma barra de ferro em forma de T, e dizia nervosamente: -
Próximo safado que quiser passar aqui eu dou logo na cabeça. Que
negócio é esse? A gente tem mesmo é que matar esses bandidos....
Neste
mesmo dia eu tinha ouvido, involuntariamente, uma destas ladainhas
clichês no ônibus: - Nós que somos trabalhadores não temos
direitos humanos.... policial pega bandido e vem os direitos humanos
querendo defender...
Nossa
sociedade é violenta, acredita em soluções autoritárias para
todos os conflitos sociais, legitima o violência do estado de
maneira cruel. Acredita que a repressão não é a causa, e sim a
solução de nossos conflitos.
Tenho
profunda empatia pelos garotos que pulam catracas. Usemos nossa força
contra do estado, e não contra nós mesmo.
Mas foi triste ver a reação do vigia, um senhor velho e baixo. Ele pegou uma barra de ferro em forma de T, e dizia nervosamente: - Próximo safado que quiser passar aqui eu dou logo na cabeça. Que negócio é esse? A gente tem mesmo é que matar esses bandidos....
Neste mesmo dia eu tinha ouvido, involuntariamente, uma destas ladainhas clichês no ônibus: - Nós que somos trabalhadores não temos direitos humanos.... policial pega bandido e vem os direitos humanos querendo defender...
Nossa sociedade é violenta, acredita em soluções autoritárias para todos os conflitos sociais, legitima o violência do estado de maneira cruel. Acredita que a repressão não é a causa, e sim a solução de nossos conflitos.
Tenho profunda empatia pelos garotos que pulam catracas. Usemos nossa força contra do estado, e não contra nós mesmo.
segunda-feira, 25 de abril de 2016
sábado, 16 de abril de 2016
segunda-feira, 4 de abril de 2016
Poesia
Vulcão
Sussurro do solo, rouco.
Som não ouvido, som profundo.
Vem debaixo da crosta do mundo
Por que não ouvi-lo? Por que tão pouco?
Vêm donde o ódio ao velho carcomido
gera ânsia violenta por destruição.
Vêm debaixo da crosta do mundo.
Feios roncos da nascente geração.
Por que não ouvi-lo? Por que tão pouco?
Se trarão o que há lá do fundo.
Se nosso belo solo, é pobre e oco.
Se nosso ar vibra um som envelhecido.
Quero o som do fundo.
Que os roncos virem gritos, e os gritos
ação.
Que tudo debaixo da crosta do mundo,
suba e cause destruição.
Cléber
P. Calça
sexta-feira, 25 de março de 2016
TRÊS VERSÕES DE ESPARTACO
Como é bom ler romance históricos!!!! Acabo de ler o livro de Espartaco, Howard Fast.
Sempre evitei ler versões de histórias em literatura depois de conhece-las em filmes. Mas no caso da genial e comovente Espartaco não deu, li logo o livro assim que o tive em mãos.
Espartaco é um personagem
histórico, ex-gladiador, liderou um exército com homens e mulheres que fugiam
da escravização. Não me peçam para demonstrar o que foi histórico e o que foi
literatura. Mas a verdade é que na história que conheci ele nasceu escravo e
era koruu, ou seja, filho e neto de escravos. Trabalhou em uma mina na Líbia,
foi comprado por um lanista (negociante e treinador de gladiadores) e levado
para Kapua para ser treinado nas artes de combate. Lá pelas tantas dos acontecimentos
os escravos fazem um motim, conseguem a liberdade, vão libertando escravos em
várias localidades e formam um exército qua combateu contra Roma.
Tanto o personagem
histórico quanto as três narrativas escancaram a legitimidade dos oprimidos em
se rebelarem e o valor da luta por liberdade. Mais do que isso, retratam que as
bases do que chamamos civilização e do estado é, no fundo, pura violência e
controle social.
Espartaco foi o símbolo da revolta do povo, cujas ações ameaçaram de fato o poder. Tanto é verdade que Roma dispensou grande quantidade de recursos e sangue de soldados para vencê-lo. Charles Hainchelin em A Origem da Religião, chegou a especular que se o exército de escravos tivesse vencido Roma, hoje não seríamos cristãos. Espartaco seria uma espécie de substituto materialista de cristo. Enquanto Jesus morreu na cruz como o salvador e prometia salvação após a morte, o líder dos escravos prometia libertar o homem na Terra, e foi crucificado junto aos seus iguais.
Recomendo as três versões, porém, se for escolher uma delas, escolha o livro de Howard Fast. Na maioria das vezes, penso eu, a arte literária nos dá muito mais que o cinema. Apesar disso, o filme de Stanley Kubrick de 1960 foi simplesmente o melhor filme que já vi!!! É interessante que no livro Espartaco não aparece tanto nas cenas. Howard Fast muitas vezes lança mão dos efeitos flash back, em que os acontecimentos são contados pelos próprios personagens. Espartaco aparece muito menos que nos filmes. Esta liberdade proporcionada pela literatura acho que complicaria o grande épico filmado 1960, que foi narrado de forma bastante linear.
De qualquer forma na versão de Stanley Kubrick incluiu cenas simplesmente memoráveis, como quando os escravos dizem que todos eles eram Espartaco (já chorou vendo-a) e a cena final em que Varinia, sua mulher, apresenta-lhe o filho do casal durante a crucificação de Espartaco.
Já o filme mais recente, de Robert Dornhelm, me deixou um pouco irritado no começo, pois gostei tanto da primeira versão que senti que estava vendo um pecado ao perceber a história sendo contada de outra maneira. Ao longo das cenas percebi que Espartaco era retratado de forma mais humanizada e não como um herói como no épico dos anos 60. No final admiti que o filme é muito bem feito e também vale a pena.
Por isso, se forem escolher, vejam todas as três versões deste fantástico símbolo das lutas dos oprimidos.
quinta-feira, 17 de março de 2016
FARSAS DO PUNITIVISMO PETISTA E DA OPOSIÇÃO
As últimas semanas foram
bombardeadas pela mídia e pelas redes sociais com constantes notícias sobre as
tentativas de impeachmar a Dilma e de aprisionar Lula. Tudo veiculado,
infelizmente, por uma mídia não investigativa, sem pensamento crítico nem
ceticismo, que vomita discursos acusatórios com argumentação rasa e que
encontra um alto-falante em um grande público também habituado ao simplismo
intelectual.
Não me interessa aqui, me
embrenhar nos pormenores legais e jornalísticos. Acho que reduzir a discussão a
isto esconde as verdadeiras questões de fundo, que são políticas. A facilidade
com que pessoas vão presas em nosso pais, em sua maioria negros e pobres, deixa
claro o projeto punitivista dos nossos magistrados e da imprensa. Como confiar que
sistema judiciário tão classista possa fazer justiça? Como acreditar em
notícias vindas de um jornalismo que em grande parte incita constantemente a
população contra os menos favorecidos, como nos programas policiais de TV?
Discursos punitivos e linchatórios são cotidianamente usados pelo estado e por boa parte da população como arma política contra os mais pobres. Em uma época em que a população se volta contra o governo, nada mais natural que tal ira recaia sobre os detentores do poder.
Muito se escreveu na
internet sobre o porquê o PT é o algo principal das acusações de corrupção e
não outros setores da direita. Quero lembrar que, apesar de isto ser verdade, o
PT alimentou o crocodilo que hoje quer comê-lo. Nosso pais se tornou a terceira
população carcerária do mundo no governo petista. Ocupações militares em
favelas e massacres de índios e camponeses também são tristes marcas recentes das
ações do governo federal, violências largamente maiores que a coerção que nosso
ex-presidente foi recentemente submetido. Se ele sofre tentativa de linchamento
público, está sofrendo as consequências da dissimilação do fascismo que teve
oportunidade de enfrentar e não enfrentou.
Se existe algum mártir
este mártir é a população mais pobre. Tornar herói um dos cúmplices de tanta
violência de estado é manchar as mãos de sangue, é antes de tudo cinismo.
O mais importante agora, penso eu, é refletirmos sobre como as pessoas reagem aos acontecimentos. Percebi no facebook muitas tendências. Há os que aderem ao discurso de ódio e de justiçamento. No campo mais à esquerda, há os que querem proteger o estado burguês de um possível golpe de setores ainda mais conservadores. Os mais revolucionários vêm em tudo isso um sintoma de enfraquecimento do estado e etc. Por outro lado, acho que falta refletirmos sobre porque tanta gente acredita tanto em punições como forma de resolução de problemas políticos, mesmo entre as pessoas mais à esquerda que pedem que as investigações da Lava Jato se estendam a políticos da oposição.
Imaginemos que Lula fosse preso e Dilma saísse da presidência, certamente muita gente ficaria feliz. Ficariam com a sensação de alivio dos vingados, comum ao público que sente que suas liberdades individuais devem ser protegidas pelo estado. Já trabalham honestamente, pagam seus impostos... nada mais justo que o estado tire de cena aqueles que atrapalham estes “cidadãos de bem”. É como se Lula fosse o negrinho intruso no shopping-center amedrontando e estragando a festa dos playboys.
Porém o que a retirada de
Dilma e Lula de fato melhoraria em nossas vidas? Michel Temer ficaria com o
poder, Aécio Neves seria eleito daqui a três anos. E daí? O que nos asseguraria
o fornecimento de melhores serviços sociais e diminuição das desigualdades
sociais? Nada.
O mesmo raciocínio pode
ser feito ao encarceramento em massa de nossa população pobre, preta e
periférica. Engaiolar pessoas em uma prisão insalubres as deixam melhor? Nos
garantiria mais segurança? A realidade
mostra que não.
Agora imagine que as
punições de fato se estendessem aos políticos de oposição. Penso que a
tendência seria o seguinte: A discussão política ficaria sempre atrelada aos
trâmites investigativos e judiciários. Descobriríamos que um determinado
político ou partido são corruptos e os substituiríamos para depois de um tempo descobrirmos
que os substitutos também faziam o mesmo. Ou seja, nunca chegaríamos às raízes
da corrupção.
Poderíamos fazer uma
pergunta ainda mais profunda: as pessoas que hoje pedem o impeachment da Dilma
e a prisão de Lula acreditam que isso de fato diminuiria a corrupção no
Brasil? Será que eles querem mesmo que o
estado forneça melhores serviços sociais e diminuía as desigualdades sociais? Sinceramente acho que não. Nem a era FHC nem
a era Lula/Dilma não fizeram muito mais que porcamente administrar nossa
miséria. Eles sabem disso e não é por ingenuidade que podem mais punição, é por
cinismo.
Por isso deixo um alerta
à esquerda que pede punição à oposição. Foquem as críticas no cenário político.
Se perdermos esta discussão, o risco não é só sofrermos com o enrijecimento
penal da sociedade e da política, mas darmos força a atores políticos que
sempre jogam nossos reais problema para de baixo do tapete.
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