domingo, 9 de agosto de 2015

Parabéns Viviany Beleboni


Comento esta lamentável notícia:

https://br.noticias.yahoo.com/transex--crucificada--na-parada-gay-denuncia-agressão-na-última-noite-165932820.html


Amar mais símbolos do que causas humanistas é uma das piores facetas da religião. Não é o próprio cristianismo que diz que somos todos iguais perante deus? O que muda em nossa vida se alguém usa de maneira não ortodoxa um símbolo cristão em um espaço laico? Por que este símbolo tem que ser sagrado, inviolável pra todos, mesmo em um espaço não religioso?   O que muda em nossa vida se alguém decide mudar de sexo?  Por que a moral cristã tem que ser a moral universal?



Eu sou ateu, Não acho que as pessoas devem deixar de acreditar em deus nem acho que alguém é mais inteligente por ser ateu. Admiro religiosos e desprezo outros ateus.  Pra mim o mais importante é que as pessoas amem a fraternidade, a justiça e tratem todos como semelhantes, mesmo pessoas com orientações sexuais diferentes. Tanto faz se amam símbolos ou dogmas, mas não desprezem ninguém que não faça isso. O mundo não deve se adaptar uma moral particular, deve ser de todos.

Se um ateu fizesse o mesmo com a Viviany Beleboni em nome do ateísmo, não seria menos criminoso por isso. Mas temos que ser honesto, não me lembre um caso de agressão deste tipo com motivação ateística ou anticlerical, normalmente eles são praticados por religiosos.
O ateísmo é mais propenso à tolerância e ao igualitarismo.





quarta-feira, 29 de abril de 2015

Sonata a Kreutzer, de Leon Tolstoi

Li a pouco tempo o livro Sonata a Kreutzer, de Leon Tolstoi.
Uma característica que aparece na maioria dos livros do autor é a criticar às instituições sociais. Nesta tragédia ele detona o casamento, retratando-o como um processo inevitável de infelicidade, no qual é impossível que o indivíduo consiga suportar sentimentos como ciúmes, raiva, etc. Valoriza-lo, portanto, seria pura hipocrisia. 
Outra fase do livro é o tremendo impacto do sexo na psicologia masculina. Uma das partes mais interessantes foi a cena do impacto que ouvir a música Sonata a Kreutzer, de Beethoven, causou sobre o protagonista. A música, ao mesmo tempo sensibiliza, potencializa os sentimentos, sejam eles bons ou ruim.







Ótima contribuição artística de uma das maiores inteligências libertárias.  Grande Leon Tolstoi.

domingo, 12 de abril de 2015

Por um radicalismo verdadeiramente de esquerda


Por Cléber Atabike

Fiz segundo grau no meio da década de noventa e lembro quando professores me contavam como a polícia do Quércia descia o cacete em manifestantes nos seus atos. Durante quase toda minha vida ouvi falar que grevistas e manifestantes eram vagabundos. Hoje vivo uma época que a direita leva milhões de pessoas às ruas. O que terá acontecido?
     Acredito que tal discrepância se deve ao que aconteceu em Junho de 2013. Estou plenamente consciente que é pouco provável que viveremos algo semelhante. Quanto a isso não me lamento. O que é importante é que o mês foi um dos poucos momentos em que ideias radicais ganharam aceitação popular. O canal da insatisfação geral foram os manifestantes que realmente entendem a raiz dos nossos problemas, que não reconhecem a ordem vigente, não aceitaram a repressão e resistiram. 

Músicos famosos mostrando em 2013 aprovação aos manifestantes mais radicais, que usam a tática black bloc. Prova que o radicalismo não era tão mal visto como hoje.


Provas do que estou dizendo foi a inesquecível pesquisa do Datena:


Ou seja, as pessoas reivindicaram o direito à revolta, queriam protestos com “vandalismo”. A ordem hegemônica não importava, a mudança valia mais que algumas vidraças (cujos donos não eram aleatoriamente escolhidos) e que o trânsito de algumas vias.
Lembremos os fatos. A resistências à repressão, nos primeiros atos do Movimento Passe Livre (MPL), mesmo com toda violência policial, provocava as reações tradicionais de criminalização dos manifestantes e dos movimentos sociais, reforçada principalmente pelos meios de comunicação hegemônicos. O MPL insistiu com atos sucessivos e não incriminou os manifestantes mais radicais, o que geralmente não acontece com sindicatos e partidos políticos. O número de pessoas foi crescendo de um ato a outro. Até que a violência policial começou a vitimar jornalistas, pessoas de classe média e até mesmo transeuntes. 13 de Julho de 2013 talvez foi o dia que isto ficou mais claro e fez com que grande parte da imprensa se voltasse contra à repressão policial.


Cenas e consequências da violência policial do dia 13 de Junho de 2013


Despertou-se, então, o interesse de milhares em participar de protestos. E no dia 17 daquele mês manifestações gigantescas pararam várias cidades em todo o Brasil. Neste segundo momento via-se quase todas as tendências políticas nas ruas, inclusive manifestantes mais adeptos ao pacifismo e ao nacionalismo. Mesmo assim o radicalismo rolava solto. No próprio dia 17 o portão do Palácio do Governo do Estado foi derrubado. Nos dias 18 e 19 houve vários ataques a ônibus, lojas de grandes cadeias, carros de veículos de imprensa, fachadas de bancos e etc. Houve depredação na Prefeitura de São Paulo, invasão de trilhos e quebras de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), bloqueio da Rodovia Raposo Tavares, da Ponte do Socorro, da Estrada do M’Boi Mirim e da via de acesso ao Aeroporto Internacional de Guarulhos. Fatos semelhantes ocorreram em vários locais do Brasil nestes dias.

Ataque ao Palácio do Governo do Estado em 17 de Junho de 2013


Esta explosão teve consequências profundas no nosso cenário político, a maioria positivas do ponto de vista da esquerda, mesmo sendo muito menos do que necessitamos. Houve derrubada do aumento das tarifas de transporte em mais de 100 cidades. Governantes se reuniram com representantes do MPL. O senado aprovou projeto de lei que torna corrupção um crime hediondo. O projeto da PEC 37 foi arquivado. Além de um patético pronunciamento em rede nacional, a presidente Dilma cancelou uma viagem, determinou que nenhum ministro deveria sair de Brasília, reuniu-se com prefeitos e governadores a fim de elaborar um plano (que não foi cumprido) para aumentar os investimentos em transporte público, defendeu a reforma política e o combate à corrupção e dezenas de outras medidas populares. Pediu apoio de sindicalistas para a realização do plebiscito pela reforma política e tentou convencer líderes sindicais a suspenderem uma greve geral que seria marcada para 11 de julho de 2013.
Ou seja, a simples ameaça de que a população pressionasse o poder a reestruturar o estado alarmou a classe política, que teve que ceder com algumas medidas populares, muito mais próximas às reivindicações históricas da esquerda.
As jornadas de Junho também deixaram um salto organizativo na sociedade. Surgiram inúmeros coletivos, a quantidade de ocupações de imóveis vazios teve um enorme salto, assim como o número de pessoas em atos de rua.
Retomo estes fatos para que não sejamos reféns das análises imediatistas, típicas dos nossos tempos. Este contexto, ocorrido a menos de dois anos atrás, parece que foi completamente esquecido tanto pelos organizadores quanto pelos manifestantes dos grandes atos que estão ocorrendo. Isto vale não somente para os protestos de direita, organizado pelos Movimento Brasil Livre (MBL), Revoltados On Line (ROL) e Movimento Vem Pra Rua (MPV), mas também paro os atos autointitulados de esquerda, como o do dia 13 de Março de 2015 chamado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o ato do dia 15 de Abril de 2015, chamada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Todos eles demonstram grande preocupação em se desvincular dos procedimentos mais radicais e ideias revolucionárias. Por isso acho que têm pouquíssimas chances de provocar tanto impacto como os ocorridos no meio de 2013, mesmo que ainda os superem em número.
Comparemos as Jornadas de Junho aos atos de direita, como o dia 15 de Março de 2015. Mesmo com a dispersão de pautas que surgiu, as Jornadas de Junho foram iniciadas pela esquerda verdadeira e sempre reivindicaram pautas de esquerda, como a redução do preço das passagens. Além disso pediam outro tipo de política, mesmo que de forma mal elaborada.
Já os protestos de direita trazem ideias essencialmente conservadoras e contraditórias, como pedir o fim da corrupção sem o fim do estado burguês, propagar o pacifismo junto com gente que pede a volta dos militares e/ou que agridem militantes de esquerda... Ou seja, são atos essencialmente antirrevolucionários. Que eu saiba, não causaram grandes impactos no governo além de somente alguns pronunciamentos oficiais de ministros. Também não deixam grandes legados à organização social, pois seus organizadores atuam com lógicas empresariais e não fazem trabalho de base. Suas pautas não reivindicam nada de novo: impeachment, falácia neoliberal estado desinchado e mais eficiente, volta dos militares, fim do suposto conflito de classes provocado pelo PT... A gente já viu tudo isso! Nem se quer confrontam a mídia burguesa. Pelo contrário, tem o apoio dela.
Lembremos que após Junho de 2013 grande parte do público não radical deixou de participar dos atos, facilitando a repressão do estado. Isto fortaleceu o discurso desleal de que os black bloc espantam os “bons manifestantes” das ruas, o que é falso pois quem realmente afasta as pessoas das ruas é a violência antidemocrática da polícia. Depois de Junho de 2013 o estado e os meios de comunicação aperfeiçoaram seus mecanismos de repressão. Protestos já estão previstos nos orçamentos das secretarias de segurança, nas agendas dos políticos e dos discursos da mídia hegemônica.
Portanto quem é verdadeiramente de esquerda tem que se esforçar para que o radicalismo volte às ruas e junto com ele as ideias esquerdistas. Isto não significa que proponho a simples destruição de propriedades privadas corporativas e burguesas como forma de luta. Não. A revolução nasce como consequência de longa mudança de consciência, de muito trabalho de base. O que penso é que devemos politizar a violência de manifestantes em atos de rua não somente com quem vai a protestos, mas também nas vilas, favelas, nos locais de trabalho.... Ao contrário do censo comum propagado pela imprensa, o “vandalismo” não deve impressionar mais do que a violência vivida diariamente nas periferias.
Os interesses partidários, o medo de perder o emprego, as concepções políticas conservadoras e reformistas e o imediatismo das análises fazem com que a maior parte das pessoas não tenha coragem de ser justa com o papel dos manifestantes radicais, que sempre enfrentaram e sofreram com as arbitrariedades policiais.
Nosso caminho é longo. Ainda conseguimos muito pouco. A sociedade está se organizando e isto continua invisível aos olhos da burguesia e da imprensa hegemônica. Sendo radicais trilharemos o caminho mais curto na construção da sociedade que queremos.







segunda-feira, 6 de abril de 2015

A crise de abastecimento é reflexo da COMPETÊNCIA do governo

Por Cléber Atabike
Estamos no final da época de chuvas e nossos reservatórios tiveram ligeira elevação no nível de água. Talvez por isso, nas últimas semanas, tenha-se dado menos destaque à crise de abastecimento em comparação com o começo do ano. Mesmo assim o governo e a mídia continuam propagandeando que o consumo domiciliar desmedido é o grande culpado pela crise e que, se fecharmos nossas torneiras, o problema será solucionado.  
A população vem reduzindo o consumo doméstico. Por outro lado, necessitamos, mais do que nunca, de ações governamentais na expansão dos reservatórios; conservação dos mananciais; renovação da rede de distribuição de água e ampliação do tratamento de esgoto. 
Depois de todo sofrimento gerado com a atual falta d’água e as assombrantes perspectivas para o futuro seria de se esperar que a gestão dos recursos hídricos estivesse tomando outro rumo. Mas infelizmente não é isso que está acontecendo, e, por incrível que pareça, o motivo não é a falta de competência do estado.


 
Reservatório de Jaguari, do Sistema da Cantareira que fica em BragançaPaulista (SP)



          Lembremos que só em 2013 a Sabesp lucrou cerca de 1,9 bilhão de reais1 e 49,74% de suas ações estão nas mãos de acionistas privados, que vêm usando este recurso público para especular na bolsa de valores de Nova Iorque!2 Com a queda no consumo doméstico e os racionamentos, houve redução dos lucros da empresa em R$ 1 bilhão3. O governo estadual e seus sócios tentam agora manter seus faturamentos aumentando o preço das contas de água e esgoto. Em dezembro de 2014 elas cresceram 6% e agora, logo no começo de Abril de 2015, recebemos o anuncio que no meio do mês as tarifas aumentarão mais 13,8%. Por incrível que pareça, a Sabesp tentou cobrar tarifas ainda maiores, o que foi barrado pela Arsesp (Agência de Saneamento). Em outras palavras, a população paulistana, mesmo sofrendo todas as consequências da falta de água, ainda tem que pagar para repor o lucro perdido dos acionistas que geraram a crise!
Com menos água e com água mais cara, a corda quebrou pro lado dos trabalhadores assalariados. A Fiesp levantou que, em 2014, a redução do ritmo da produção e a queda da produtividade de 213 indústrias devido à falta d`água levou ao fechamento de mais de 3 mil postos de trabalho4. A tendência, segundo a própria entidade patronal, é que o quadro se agrave ainda mais. 
Demissões estão ocorrendo no próprio quadro de funcionários da Sabesp. Diminuir a folha de pagamento da “estatal” é mais uma estratégia para garantir os lucros dos investidores5. Além disso, a atual crise aumenta a carga de trabalho, pois muitos trabalhadores têm que fechar os registros diariamente, além de atender cada vez mais reclamações da população. Com menos funcionários a pressão no ambiente de trabalho será maior, o que deve piorar o atendimento à população. A tendência será a declaração de uma justa greve. Já imaginou o que isso acarretaria?
Mesmo assim parece que os sócios do estado estão totalmente tranquilos, provavelmente à beira de uma piscina em Miami, vendo o crescimento de suas contas bancárias e sem a preocupação em ficar sem água em casa. Mas quem vive em São Paulo tem que se preocupar com a proteção de nossos mananciais, tem que se preocupar com infra-estrutura de abastecimento de água e de coleta e saneamento de esgoto.
Hoje 79% dos mananciais paulistas estão destruídos e o governo ainda insiste em continuar esta devastação 7,8. Vale lembrar que a vegetação nestas áreas faz com que água se permeie pelo solo e encha os sistemas hídricos. 

Imagens de satélite que mostram a diminuição de área coberta por água no Reservatório Jaguari, do Sistema Cantareira, entre 2010 e 2014.  Fonte:  Site da Revista Época.


A especulação imobiliária, a pecuária e a agricultura são as grandes responsáveis pela perda desta vegetação e provocaram, por consequência, a baixa nos reservatórios. A figura abaixo sintetiza o que acontecia nos mananciais paulistas quando havia cobertura vegetal e o que está acontecendo hoje, quando grande parte da região não tem vegetação:


Ação do desmatamento nos mananciais hídricos


Um bom exemplo de descompromisso com a proteção dos mananciais é o Parque dos Búfalos, área de manancial na zona sul em São Paulo. A prefeitura de São Paulo se associou à construtora EMCCAMP para construir ali mais de quatro mil moradias com recursos do programa ‘Minha Casa Minha Vida’ (tratarei deste caso em outro texto).



Exemplo do valor paisagístico do Parque dos Búfalos, localizado em área de manancial da Represa Billings. Área é usada pela população do bairro para laser, além de ser refúgio de fauna e flora da Mata Atlântica.

Não é menos alarmante a situação do tratamento de abastecimento de água e coleta e tratamento esgoto. Segundo dados do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), só em 2012 a cidade de São Paulo perdeu 36,3% da água tratada principalmente devido a vazamentos na distribuição6. Com a diminuição de arrecadação, a Sabesp prevê investir somente R$ 843 milhões em rede de esgoto, menos da metade dos R$ 1,9 bilhões gastos em 2014. Lembremos que no estado de São Paulo 14% da população simplesmente não tem coleta de esgoto e a capital paulista trata somente 52,15% do esgoto que produz6. Fica fácil perceber porque praticamente não dispomos de rios limpos no nosso perímetro urbano.
Se a crise se agravar, pode sobrar somente as péssimas águas da Represa Billings para consumo residencial. O problema é que elas apresentam muito esgoto, com altas concentrações de metais pesados e poluentes orgânicos permanentes9. Haverá o iminente risco de caos na rede de atendimento de saúde pública se tivermos que usar estas águas. 
Mesmo com tanta omissão na garantia de água barata e de qualidade para a população, o estado se preocupa de maneira exagerada com o consumo domiciliar. No Brasil inteiro, 72% da água vai para o agronegócio, 22% para a indústria e somente 6% para residências 10. Na Grande São Paulo, mesmo com uma população de cerca de 15 milhões de pessoas, quase 21% do volume de água dos seus sistemas de abastecimento são fornecidos à indústria e à irrigação11. Ou seja, ao contrário do que as propagandas governamentais tentam nos vender, a economia doméstica de água minimiza um pouco o problema, mas não o resolverá sozinha.
Mas esta preocupação exagera tem motivo. Além de garantir o lucro dos seus acionistas, a Sabesp tem seus clientes privilegiados, que pagam até 75% menos na conta de água e esgoto se tiverem um consumo mínimo mensal de 500 mil litros. Entre eles está a Abril Comunicações, Ambiental Distribuidora de Água, Citibank, Itaú, Banco Safra, Bradesco, Bovespa, Carrefour, Igreja Pentecostal Deus é Amor, Igreja Universal do Reino de Deus, Mcdonald’s, Honda, São Paulo Futebol Clube, Siemens, TAM, Telefônica, os Shopping Centers Leste e Center Plaza, Itapecerica da Serra, Metrô Boulevard Tatuapé e Itaquera, além de planos de saúde, escolas e universidades particulares, metalúrgicas, condomínios fechados, empresas do ramo farmacêutico entre outros. O mais grave é que, mesmo com a crise evidente, novos contratos deste tipo (de demanda firme) vêm sendo assinados 12,13
A lógica é simples: a Sabesp é vista por seus gestores como uma empresa comercial, e sua mercadoria é a água. O que ela fez nos últimos anos foi simplesmente estimular quem consome muito a comprar mais a mercadoria que vendia. Não por acaso, o volume de água destinado a estas empresas aumentou 92 vezes em dez anos13.

Aumento de 92% no consumo de água, nos últimos 10 anos, de 526 empresas que têm contrato de consumo mínimo mensal de 500 mil litros (de demanda firme) com a Sabesp. Fonte: www.apublica.org13.



Ou seja, a “estatal” está tentando garantir que alguns setores da economia, que são sócios e donos do estado, não paguem pela crise que eles mesmos geraram. A diminuição do consumo domiciliar e o aumento das tarifas, na prática, estão financiando estes privilégios.
Com tantas mazelas pode parecer, à primeira vista, que a crise de abastecimento é consequência da incompetência governamental. Mas, como disse acima, é exatamente o contrário. É fácil perceber que o estado é um grande balcão de negócios e seus negociantes, convenhamos, negociam muito bem. A administração Sabesp deixa isto escancarado. É uma empresa de capital misto. Sua função, aos olhos dos seus gestores, é dar lucro, e nisto eles estão sendo muito competentes. 



Fontes


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quarta-feira, 1 de abril de 2015

A ditadura ainda continua


Por Cléber Atabike

Hoje fazem exatos 51 anos do evento que marcou a ascensão do fascismo brasileiro.

Vale lembrar que foi por durante o regime militar que a polícia militar foi criada.  Por isso acredito que, por mais que os militares não estejam no poder, a militarização das mentes e o fascismo oriundos daquela época ainda vigoram no Brasil.


Temos a terceira população carcerária do mundo e um estado policial que persegue principalmente a população pobre, negro e periférica, com o aplauso dos detentores dos monopólios da mídia e, infelizmente, de boa parte da população adepta destas ideologias.  Enquanto tudo isso não acabar, não podemos dizer que a ditadura não acabou. 











terça-feira, 17 de março de 2015

É a nossa chance de ruir dois projetos de direita


por Cléber Atabike


Mesmo que à primeira vista as manifestações dos dias 13 e 15 de março de 2015 pareçam uma derrota da esquerda verdadeira, elas podem ser muito úteis à luta anticapitalista pois esclarecem muito bem os desafios que teremos que enfrentar. Apesar de terem sido protestos de direita, é interessante notar que estas pessoas não estão passivas e sim reagindo aos acontecimentos recentes, mesmo com ingenuidade política, preconceitos de classe e, em alguns casos, maldade.
É claro que é inútil tentar convencer neonazisras, - e similares a lutar por uma sociedade igualitarista, humana e com participação popular.  Mas podemos investir nas pessoas que estão indo às ruas por ingenuidade política ou mesmo por preconceito de classe. Elas, como nós, querem mudanças.
Lembremos que na última eleição houve 30% de não votantes (boicote e voto nulo), mesmo o voto sendo legalmente obrigatório, mostrando que a população brasileira não acredita no sistema político. Mesmo entre os que participaram da farsa eleitoral, não vi, em nenhum momento, ninguém com camisa nem retrato do Aécio ou da Dilma em casa. De modo geral, quem escolheu um candidato na verdade votou contra o outro, vota no menos pior.
Passada as eleições e as medidas anti-populares do começo do mandato de Dilma, explodem duas reações populares de direita, as dos adeptos do projeto neodesenvolvimentista/neoliberal do PT e do projeto estritamente neoliberal e anti-polular do PSDB.
A reforma política, pelo que percebi, foi a principal reivindicação dos protestos do dia 13. Penso que é hora de explicar que tais reformas, se ocorrerem, serão uma farsa. É ingênuo demais acreditar que os próprios beneficiados do sistema político atual operem mudanças que tirariam seus privilégios.  Seria mais uma vez o velho protocolo brasileiro de dirigismo estatal que blinda o povo de participar das decisões.
Devemos explicar que criticar a corrupção generalizado apenas como se o problema dependesse do fim de casos pontuais de desvio de conduta, como fizeram a turma do dia 15, é atacar a superfície do problema.  Nosso sistema político faz com que boa parte dos que estiverem no poder estejam envolvido com falcatruas. Por mais que possam existir políticos honestos, o problema é estrutural, e não pontual. Pedir impeachment é só pedir que se troque o ladrão. A questão de fundo é que o estado é um grande balcão de negócios de interesses privamos e corporativos, totalmente blindado contra o controle social.
Não me surpreendo com os sucessivos escândalos de corrupção.  Não é porque não me sinta indignado, mas porque compreendo que por mais que existam mecanismos cada vez mais eficazes de vigiar e punir os infratores, se o sistema político não mudar, novos corruptos surgirão como minhocas que se multiplicam assim que cortadas em várias partes.
Mesmo ficando claro que a grande maioria dos casos de corrupção tenham raízes no financiamento privado ilimitado de campanha, não acredito que somente o fim deste mecanismos reduzirá a corrupção. Nas épocas que não haviam tantas campanhas eleitorais ou quando as campanhas eram mais baratas. Como no regime militar, havia menos corrupção?  Claro que não. Se o financiamento de campanha for estritamente público e a mesma classe de político estiver no poder, ela descobrirá outras formas de praticar corrupção.
Devemos explicar à população que tanto o projeto do PT quanto do PSDB são muito pouco comparados com as potencialidades da nossa sociedade. Tenho certeza que podemos construir opções melhores para o futuro. Devemos explicar às pessoas que foram a estes atos que com ou sem Dilma, com Michel Temer ou Eduardo Cunha, com Aécio Neves ou Marina Silva, o velho modelo de estado burguês permanecerá em pé como um zumbi que não sabe que está morto.
Acima de tudo é importante mostrar que existe uma terceira via, que é possível construirmos outro sistema, que passa pelo ataque ao estado burguês, ao capitalismo epela consolidação do poder popular. Sei que o caminho pode ser longo, mas devemos mostrar que o sistema político só será minimamente respeitoso com a população quando o povo puder participar livremente das decisões políticas e deixar de pedir e começar a impor sua soberania, independente de quem esteja nos cargos administrativos.
Temos que explicar que participação popular implica ativismo, erros, acertos, dor e aprendizagem. Mas como aprender sem praticar, sem errar e aprender como os erros?
Os protestos de junho de 2013 começaram com a esquerda verdadeira, apartidária. Avalio que eles se tornaram gigantes exatamente porque diversas tendências ideológicas que estavam insatisfeitas como o governo dividiram os mesmos espaços. O Estado foi pego de calças curtas e, em certos momentos, a imprensa e até mesmo a própria polícia perderam legitimidade perante à opinião pública.
Baixada a poeira de Junho de 2013, nós continuamos na rua enquanto os setores ideologicamente burgueses voltaram pra casa para reclamar da vida. A imprensa e o governo, muito preocupados principalmente na época com a Copa da FIFA, foram aperfeiçoando os mecanismos repressivos e de dominação ideológica. Durante a farra da FIFA, conservadores, a maior parte da população estava passiva. O que vimos em seguida foi o recrudescimento e aperfeiçoamento do fascismo pelo estado. Talvez nunca desde os anos de chumbo, no período militar, houve tanta perseguição a militantes como agora.  Se o estado se preocupa tanto conosco, se investe tanto na nossa repressão, é por que estamos incomodando, é porque estamos no caminho certo.
Mas o que estava acontecendo com as pessoas que não estavam frequentando os atos de ruas?  Posso estar errado, mas penso que depois de junho de 2013 também os conservadores discutiram mais política e se reconheceram melhor ideologicamente.  Suas identificações ideológicas não estavam sendo expressas nos protestos populares, mais sim nos bate-papos diários, em discussões de facebook e etc. Só percebemos isso agora, com os protestos do dia 13 e 15.
Obviamente, são manifestações que incomodam muito menos o poder, pois defendem duas opções de estado burguês. Aposto meu fígado que não houve nem 1% da repressão a militantes que nós sofremos. Mas há um aspecto muito positivo à nossa luta: Talvez mais do que nunca as pessoas estejam deixando claro suas concepções.  Lembro como foi a reação dos setores ideologicamente burgueses, da direita mais atrasada, após a reeleição de Dilma:  misoginia, racismo, preconceito contra nordestino. Do lado dos pró-Dilma, nenhum elogio à ela, nem ao Lula. Foi quase como se dissessem:  Tá ruim mais se mudar piora. Ou essa:  A gente quer fazer as reformas, mas o PMDB não deixa, o congresso não faz a reforma política... enfim, eles estão falando o que pensam, e por mais odioso que seja, isso é bom. Os protestos dos dias 13 e 15 deixam claro o reconhecimento, entre tais os setores, o que cada um pensa, o porquê uns preferem o PT e outros o PSDB, mas principalmente a fraqueza das duas propostas.
Acho pouco provável que, como em junho de 2013, diferentes tendencias ideológicas estejam juntas sobre no mesmo chão juntos. Nos resta agora mostrar a eles as contradições de suas ideias, mostrar o conflito de classe que está escancarado, fortalecer as bases populares e assim aumentar o número de pessoas que frequentam manifestações realmente contestadoras da ordem vigente. As estruturas do estado atual estão ruindo, e quando cair, que seja nas mãos do poder popular igualitarista, humanista e internacionalista. Estejamos sempre nas ruas, porque na guerra de ideias, nossas armas são mais poderosas.