Mergulhar
em uma rotina maçante é algo tenebroso. É estar forçado a estar mudo, sem significar
as ações diárias. É mergulhar o tempo interior nos minutos e enxergar somente
seus segundos. É sentir que o constante carregar do grande peso diário pode ser
inevitável e eterno.
Mas
se isso fosse totalmente verdade, como explicar porque sentimos uma certa
necessidade de recordar o passado? Porque
olhar fotos nos desperta tantos sentimentos? As marcas do tempo nas ruas, nas
coisas e nos corpos nos dizem que alguma coisa há além dos constantes esforços
sem sentido.
Temos
em nós um intrigante instinto chamado saudade, que ao mesmo tempo causa prazer
e medo. Este instinto nos impõe a negar o dilema de Sísifo. Tenta nos mostrar
que estamos caminhando, mesmo que não saibamos para onde ou nem mesmo
percebamos as mudanças na vida. Olhar fotos antigas nos joga na cara que o tempo
nos faz sempre perder algo. Por outro lado, ver com uma face era mais jovem do
que hoje e perceber que fizemos parte da história de outras almas revela que as
coisas mudam, e cada mudança nos construiu.
Alguns
clástos, ou mesmo poeira da pedra que carregamos diariamente caem do outro do
lado da montanha. Se pensarmos sobre nosso passado, se alargarmos nosso campo
de visão do tempo para além dos enormes segundos do pesado subir diário da
montanha, perceberemos que degraus são ultrapassados sem que percebamos. Mesmo
que a vida tenha milhares de esforços de Sísifo, ela toda sempre muda e nunca voltamos
mais ao ponto inicial do caminho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário