quinta-feira, 17 de março de 2016

FARSAS DO PUNITIVISMO PETISTA E DA OPOSIÇÃO


       As últimas semanas foram bombardeadas pela mídia e pelas redes sociais com constantes notícias sobre as tentativas de impeachmar a Dilma e de aprisionar Lula. Tudo veiculado, infelizmente, por uma mídia não investigativa, sem pensamento crítico nem ceticismo, que vomita discursos acusatórios com argumentação rasa e que encontra um alto-falante em um grande público também habituado ao simplismo intelectual.
      Não me interessa aqui, me embrenhar nos pormenores legais e jornalísticos. Acho que reduzir a discussão a isto esconde as verdadeiras questões de fundo, que são políticas. A facilidade com que pessoas vão presas em nosso pais, em sua maioria negros e pobres, deixa claro o projeto punitivista dos nossos magistrados e da imprensa. Como confiar que sistema judiciário tão classista possa fazer justiça? Como acreditar em notícias vindas de um jornalismo que em grande parte incita constantemente a população contra os menos favorecidos, como nos programas policiais de TV? 

    Discursos punitivos e linchatórios são cotidianamente usados pelo estado e por boa parte da população como arma política contra os mais pobres. Em uma época em que a população se volta contra o governo, nada mais natural que tal ira recaia sobre os detentores do poder.

      Muito se escreveu na internet sobre o porquê o PT é o algo principal das acusações de corrupção e não outros setores da direita. Quero lembrar que, apesar de isto ser verdade, o PT alimentou o crocodilo que hoje quer comê-lo. Nosso pais se tornou a terceira população carcerária do mundo no governo petista. Ocupações militares em favelas e massacres de índios e camponeses também são tristes marcas recentes das ações do governo federal, violências largamente maiores que a coerção que nosso ex-presidente foi recentemente submetido. Se ele sofre tentativa de linchamento público, está sofrendo as consequências da dissimilação do fascismo que teve oportunidade de enfrentar e não enfrentou.
      Se existe algum mártir este mártir é a população mais pobre. Tornar herói um dos cúmplices de tanta violência de estado é manchar as mãos de sangue, é antes de tudo cinismo.

      O mais importante agora, penso eu, é refletirmos sobre como as pessoas reagem aos acontecimentos. Percebi no facebook muitas tendências. Há os que aderem ao discurso de ódio e de justiçamento. No campo mais à esquerda, há os que querem proteger o estado burguês de um possível golpe de setores ainda mais conservadores. Os mais revolucionários vêm em tudo isso um sintoma de enfraquecimento do estado e etc. Por outro lado, acho que falta refletirmos sobre porque tanta gente acredita tanto em punições como forma de resolução de problemas políticos, mesmo entre as pessoas mais à esquerda que pedem que as investigações da Lava Jato se estendam a políticos da oposição.

      Imaginemos que Lula fosse preso e Dilma saísse da presidência, certamente muita gente ficaria feliz. Ficariam com a sensação de alivio dos vingados, comum ao público que sente que suas liberdades individuais devem ser protegidas pelo estado. Já trabalham honestamente, pagam seus impostos... nada mais justo que o estado tire de cena aqueles que atrapalham estes “cidadãos de bem”. É como se Lula fosse o negrinho intruso no shopping-center amedrontando e estragando a festa dos playboys.   

     Porém o que a retirada de Dilma e Lula de fato melhoraria em nossas vidas? Michel Temer ficaria com o poder, Aécio Neves seria eleito daqui a três anos. E daí? O que nos asseguraria o fornecimento de melhores serviços sociais e diminuição das desigualdades sociais? Nada.
      O mesmo raciocínio pode ser feito ao encarceramento em massa de nossa população pobre, preta e periférica. Engaiolar pessoas em uma prisão insalubres as deixam melhor? Nos garantiria mais segurança?  A realidade mostra que não.
      Agora imagine que as punições de fato se estendessem aos políticos de oposição. Penso que a tendência seria o seguinte: A discussão política ficaria sempre atrelada aos trâmites investigativos e judiciários. Descobriríamos que um determinado político ou partido são corruptos e os substituiríamos para depois de um tempo descobrirmos que os substitutos também faziam o mesmo. Ou seja, nunca chegaríamos às raízes da corrupção. 

     Poderíamos fazer uma pergunta ainda mais profunda: as pessoas que hoje pedem o impeachment da Dilma e a prisão de Lula acreditam que isso de fato diminuiria a corrupção no Brasil?  Será que eles querem mesmo que o estado forneça melhores serviços sociais e diminuía as desigualdades sociais?  Sinceramente acho que não. Nem a era FHC nem a era Lula/Dilma não fizeram muito mais que porcamente administrar nossa miséria. Eles sabem disso e não é por ingenuidade que podem mais punição, é por cinismo.
      Por isso deixo um alerta à esquerda que pede punição à oposição. Foquem as críticas no cenário político. Se perdermos esta discussão, o risco não é só sofrermos com o enrijecimento penal da sociedade e da política, mas darmos força a atores políticos que sempre jogam nossos reais problema para de baixo do tapete.


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