quinta-feira, 18 de agosto de 2016

É HORA DE MAIS UM GOLPE

       Vivemos um momento de avanço do neoliberalismo no Brasil. A situação é complexa, há guerras de narrativas nem sempre bem debatida na população. A força do sistema que se impõe sobre a nossa vida pode fazer muita gente bem-intencionada servir à opressão exercida pela castra política, pela imprensa, pelo rentismo e pelo judiciário.
         Foi quase impossível não ser influenciado por todo o teatro judicial e midiático do impeachment. Ficou muito claro que todos os atores deste processo não merecem nossa confiança. Sou da opinião que o impeachment foi um golpe palaciano, dado de quem está ao lado do poder. Mas acho que não vale a pena aprofundar a discussão sobre a definição do que ocorreu. Deixo a conclusão para a história. Quero mostrar que, querendo ou não, corremos o risco de reforçar as ferramentas do sistema que agem contra nós mesmo. Ou seja, acordo de classes, eleições e judiciários são campos de batalhas contrarrevolucionários, dos quais é impossível evitar suas contradições. O golpe foi dado, façamos que ele atinja o sistema, e não a gente.
          Mesmo que o governo Temer seja bem pior do que seria o governo Dilma se ela continuasse, o que adianta ressaltar o pouco que a classe trabalhadora perde com Temer no poder ao invés de Dilma? Qual segurança teríamos de que Dilma frearia o ajuste fiscal iniciado no começo de seu próprio governo? Lula de volta também não daria em grande coisa. Com esta mesma estrutura de poder, seria pedir outro golpe.
           Vivemos em um momento em que executivos e políticos têm medo de ser presos. Porém penso que punir mais burgueses não significa que a justiça esteja sendo menos parcial. Significa simplesmente que o punitivismo está maior, tão grande que chega a alguns de cima.  Se a estrutura do poder não mudar, para cada burguês preso muito mais pobres negro também o serão, preservando a maioria de desfavorecidos nas cadeias.
         Pode parecer desolador ter um governo tão explicitamente reacionário no poder, mas lembremos que os momentos de nossa história em que a classe trabalhadora mais obteve direitos foi no governo Getúlio Vargas, com as leis trabalhistas, e no governo José Sarney, com a Constituição de 1988. Nenhum destes governos foi eleito, nenhum deles nem se quer foi considerado de esquerda. Os direitos foram conquistados com consequência de decadência de governos conservadores. Não foi por interesse de nenhuma conciliação de classes, como propõe o PT, que hoje minorias como negros, LGBTs e mulheres obtiveram os direitos que hoje têm. Foi porque a população pressionou o poder para tal.
         É este o caminho.  Pode não parecer, mas o estado burguês é dialeticamente permeável à rua. Mesmo que a castra política, a imprensa, o rentismo e o judiciário continuem dando as cartas, não são tão fortes e unidos quanto tanta gente da esquerda pensa. Todas as bizarrices que presenciamos no impeachment mostram o que os uniu foi somente a incapacidade do governo PT em manter o acordo de classe. Agora vive-se as contradições do um governo de ultradireita considerado ainda menos legitimo pela maioria. O sistema político está mais suscetível às forças de ação dos oprimidos. É hora de mais um golpe, vindo de baixo do poder.

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